AMANTES....

Tanto os homens quanto as mulheres casadas possuem o desejo de ter relacionamentos extraconjugais. A diferença é que o homem tem coragem sempre que se sente atraído ou apaixonado. Deixa de fazer por falta de oportunidade. Já as mulheres geralmente o fazem por vingança.

         Tanto os homens quanto as mulheres traem porque é absolutamente natural, já que o ser humano é poligâmico, apesar do capitalismo insistir na monogamia por razões econômicas. Os homens são socialmente estimulados e as mulheres, punidas.

         Ao buscarmos a companhia de um amante, estamos cuidando de nós mesmos. Estamos deixando de fazer tudo o que a sociedade, a família e os amigos consideram certo, para fazermos o que nos agrada. Deixamos de atender aos interesses dos outros, para atender aos nossos.

         O perigo, o caráter sigiloso, o proibido, a contestação às normas sociais e a total cumplicidade entre os amantes os leva à uma sensação singular, onde se sentem especiais, confiantes, únicos.

         Quando uma mulher jovem se apaixona por um homem maduro, a sua beleza, admiração, amor, disposição para o sexo, a falta de problemas, o olhar endeusado como o de uma criança para seu pai se transformam numa atração fatal para o homem casado.

         Com o tempo, passa a total admiração pelo príncipe encantado. Começam a aparecer os problemas e as cobranças. O homem sente seu casamento ameaçado. Começa a se distanciar da amante e ela sente raiva, ao ver seu príncipe transformado em sapo.

         Mesmo sentindo mais paixão pela amante do que pela mulher, dificilmente abandonam as esposas. Abandonar a esposa é como deixar de ser responsável e causa culpa. Abandonar a amante causa dor. Os homens são criados para suportar a dor, não a culpa.

         A sociedade tenta mutilar as mulheres, dividindo-as em duas categorias:

a) CLASSE DA MÃES: mãe biológica, esposas, namoradas, tias, irmãs, etc...;

b) CLASSE DAS MULHERES: prostitutas, amantes e as “galinhas”.

         As da primeira categoria desejam pertencer à segunda, deixando de pensar nos outros para se colocarem como prioridade, vivendo com plenitude o amor, o sexo e a sua individualidade. Não o fazem pelo receio de serem punidas pela sociedade, perdendo a sua condição de mulheres respeitáveis.

         Já as da segunda categoria gostariam de ser respeitadas pela sociedade como as da primeira categoria.

         O homem não pode sair de mãozinha dada com uma “piranha”, mas também não pode comer a “mãe”.

         A esposa é para ser apresentada à sociedade, mas não se presta muito bem para o sexo, pois como pode ele fazer uma bela sacanagem com a mãe de seus filhos, uma quase santa...

         A amante e a esposa se complementam, dando ao homem uma vida social respeitável e, por outro lado, amor, sexo e individualidade. Tanto isto é verdade que os adúlteros sonham em viver com os dois (amante e mulher/marido).

         Já as mulheres casadas e as solteiras procuram um amante para poderem se sentir “mulheres”, capazes de amar, de serem amadas, de seduzir, de serem seduzidas, de viverem plenamente sua sexualidade. Enfim, fazer tudo que é proibido às mulheres de bem.

         Sempre me fascinaram as mulheres, que arriscam toda uma vida confortável, pelo prazer de um amante. Nunca consegui acreditar na explicação simplista de que eram“piranhas”, “galinhas”, “burras”, “prostitutas”, “sem vergonha”, “que vieram de família ruim” ou simplesmente “que não prestavam”.

         Também nunca acreditei que os homens ao abandonarem a família pelo amor de uma mulher fossem “sem vergonha”, “tarados” ou “cafajestes”.

         A esposa traída tende a considerar amante como prostituta, apesar de saber que apenas as amantes são capazes de lhe roubar o marido.

         Na realidade as esposas e os filhos é que realmente gastam bastante dinheiro dos esposos. As amantes pegam muito pouco e levam a fama toda.

         A prostituta nos dá sensações que se esgotam com os sentidos.

         As sensações uma vez conhecidas e experimentadas, deixam de ser sensações, deixam de causar o efeito desejado. É preciso estar sempre criando novas sensações.

         A amante nos dá sentimentos que não cessam quando o fator que os estimulou deixa de atuar.

         Uma sensação pode extinguir-se em questão de segundos; porém, para exterminar um sentimento, a vida inteira parece pouco.

         Muitos contam vantagens sobre as extraordinárias sensações obtidas diante da sensacional garota. Tentam convencer aos outros e a si mesmo de que foi bom, mas dentro do coração só existem o vazio e a ressaca moral.

         Os sentimentos são bem particulares, difíceis de serem explicados, não servem para contar vantagem.

         Como explicar que o olhar, o sorriso, o abraço, o beijo, o estar juntos foi mais gostoso do que aquela extravagante trepada. Parece que estamos ficando loucos.

         Os amantes estão envoltos numa aura de espiritualidade. Estão como em nuvens que pairam acima das relações de mercado, acima das convenções sociais, acima das obrigações e de todas as leis mundanas. Sentem-se atraídos, apaixonados e entorpecidos.

         Parece inegável que todos nós vamos nos modificando a cada dia, seja física, seja mentalmente. O amor possibilita que essas inevitáveis transformações ocorram de maneira mais suave. Quem ama brilha mais, transpira mais, bombeia mais sangue para o coração, irrita-se menos, enfim, tem mais energia. O amor tem um poder anestesiante, exterminando o que fomos, usando a fórmula de nos fazer apaixonar pelo que somos.

         A causa de tanto deleite não é o fato de nos relacionarmos com alguém que julgamos diferente, mas sim a experiência de vivenciarmos o “eu” em seu estado mais puro, o prazer de só ser. O prazer não está no amante propriamente dito, mas no ambiente a que ele nos conduz, passamos de um estado de sociedade para um estado de individualidade.

         Narciso, que esteve amando a si mesmo pensando estar amando o outro, é o mito que melhor ilustra a relação dos amantes. O verdadeiro amor é justamente aquele que consegue nos fazer refletir.